ENTREVISTA

Autor do "PL do aborto" diz que Lula rebateu texto com 'ataque pessoal'

Lula disse que desejaria saber como deputado reagiria se uma filha dele fosse vítima de estupro
Por Agência Estado 19/06/2024 - 09:03

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Alex Ferreira/Câmara dos Deputados
O autor do projeto de lei, deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ)
O autor do projeto de lei, deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ)

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), autor do projeto de lei (PL) que equipara o aborto feito em gestações com mais de 22 semanas ao crime de homicídio simples, classificou como "ataque pessoal" o último pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema. Nesta terça-feira, 18, petista sugeriu que o debate sobre o tema deve ser feito como uma questão de saúde pública e afirmou: "a menina é obrigada a ter um filho de um cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre desta menina?".

Em sua declaração, Lula afirmou que desejaria saber como o autor do projeto reagiria se uma filha dele fosse vítima de estupro. "O cidadão diz que fez o projeto 'para testar o Lula'. Eu não preciso de teste, quem precisa de teste é ele. Eu quero saber se uma filha dele fosse estuprada, como ele ia se comportar", disse o presidente em entrevista ao Jornal da CBN.

Ainda nesta terça-feira, Sóstenes respondeu, por meio de uma nota, que o "teste" citado por Lula seria para analisar a capacidade do petista em "enfrentar questões morais com seriedade". "Transformar uma questão de vida ou morte em um jogo político é desrespeitoso", completou.

"É realmente triste ver você (Lula) transformando uma questão tão séria em um ataque pessoal. (...) Meus filhos sempre foram ensinados nos caminhos de Deus, aprendendo a distinguir o que é bom e reto", disse o parlamentar.

Durante a entrevista para o Jornal da CBN, o petista ressaltou que, a nível pessoal, é contra o aborto, mas criticou a desigualdade social no acesso ao procedimento. "Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, sou contra o aborto, para ficar bem claro. Agora, enquanto chefe de Estado, o aborto tem que ser tratado como questão de saúde publica, porque você não pode continuar permitindo que a 'madame' vá fazer um aborto em Paris e que a coitada morra em casa tentando furar o útero com uma agulha de tricô. Este é o drama que estamos vivendo", afirmou.

Para o chefe do Executivo, o tema não deveria estar em tramitação na Câmara, muito menos em regime de urgência. Segundo o presidente, assuntos mais prioritários ao País deveriam estar em discussão e pautas de costumes "não têm nada a ver com a realidade que vivemos".

Essa não foi a primeira vez que o presidente criticou a proposta feita por Sóstenes. No sábado, 15, ele declarou que era uma "insanidade" querer punir a mulher vítima de estupro com uma pena maior que a do estuprador.

Adiamento da votação

Nesta terça-feira, 18, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciou a formação de uma "comissão representativa" para debater o projeto. O alagoano não especificou como o grupo será formado e informou que o seu funcionamento será decidido em agosto.

"O colégio de líderes deliberou debater esse tema de maneira ampla no segundo semestre, com a formação de uma comissão representativa", declarou Lira. "Todas as forças políticas, sociais, participarão desse debate, sem pressa e sem qualquer tipo de açodamento", acrescentou.

Como mostrou a Coluna do Estadão, o Centrão e a base de Lula na Câmara já tentavam desde a semana passada empurrar a votação do projeto para depois das eleições municipais de outubro.


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